Parte I: Desenvolvimento em 4 âmbitos

Por Roberto Dertoni*

Primeira Escola Waldorf, fundada em 1919 em Stuttgart, Alemanha
Primeira Escola Waldorf, fundada em 1919 em Stuttgart, Alemanha

Este ano as Escolas Waldorf (EW) estão comemorando 100 anos de existência. Ao longo desse tempo, muitas escolas inspiradas na Antroposofia foram criadas em diversos países.

Além de toda a inovação com relação à questão pedagógica e à atuação dos professores a partir de uma compreensão mais ampla do desenvolvimento humano, uma coisa que logo chama a atenção quando entramos em contato com uma EW é a sua forma de gestão, onde pais, professores e funcionários atuam de forma associativa.

Mas, apesar de muitas EWs ao redor do mundo terem muita experiência acumulada nesse sentido, ainda há uma grande dificuldade dessas escolas de trabalharem de forma associativa e até de entender o que significa trabalhar, na prática, de forma associativa. Muitas vezes, no início de uma escola, se tem a concepção de que todos devem decidir tudo, o que leva a um certo caos, a uma demora nas decisões e, muitas vezes, a conflitos e, até mesmo, inoperância.

Então surgem as questões: como podemos nos organizar como grupo, de forma inteligente, de maneira a aproveitar o potencial de cada um em prol dos objetivos de todos? Como fazermos isso sem sermos lentos nas decisões e ações? Como conciliar e respeitar as vontades de cada um sem levar ao caos e aos conflitos?

A dificuldade inicial tem a ver com a estrutura de gestão, sobre como nos organizamos como grupo. E aqui persiste uma falta de clareza sobre o que é trabalhar em grupo, o que é gestão compartilhada e o que é autogestão. Sobre quem é responsável por decidir o que e quando, e sobre como delegar responsabilidades.

Outro aspecto importante a considerar é que, para sustentar a estrutura de gestão (a organização em grupo), é importante que as pessoas envolvidas aprendam a trabalhar com processos colaborativos de reunião, de tomada de decisão e de delegação. Mas para que esses processos caminhem bem, é preciso desenvolver habilidades relacionais essenciais como escuta empática, comunicação franca e respeitosa e saber distinguir o que é fato do que é opinião pessoal ou julgamento. E para sustentar essas habilidades relacionais na prática é fundamental que cada um trabalhe no seu autodesenvolvimento, aprendendo a reconhecer, a admitir e a aceitar suas luzes e sua sombras, se tornando aprendiz de si mesmo.

Para que uma EW (ou qualquer outra organização que queira trabalhar de maneira menos hierarquizada) seja bem sucedida, precisa trabalhar o desenvolvimento de seus integrantes nesses 4 âmbitos. Isso requer um esforço contínuo de desenvolvimento, que traz seus frutos com mais clareza dos papéis de cada um, com decisões mais rápidas e que geram mais comprometimento de todos, com relações mais harmônicas e com pessoas mais autênticas e responsáveis.

*Roberto Dertoni é consultor em desenvolvimento humano e organizacional, com formação pelo Centre for Social Development, na Inglaterra