“As festas anuais são um acontecimento importante na vida e no ritmo da criança e mesmo do adulto. Se tentarmos lembrar de nossa infância, as festas do ano parecem pequenas pedras preciosas. A civilização moderna, tão consumista, incentiva apenas o lado comercial destas festas. Mas elas têm um profundo sentido espiritual, e são marcos importantes no ritmo do ano com suas quatro estações e desempenham um importante papel na biografia e na saúde do ser humano.

Resgatar o sentido das imagens e costumes que acompanham as festas anuais tem um grande efeito sanador. Usando-os conscientemente, isto é : sabendo o que está representado nestes costumes e simbologias, nos permitirá dar novamente um verdadeiro sentido espiritual às festas, e nos beneficiar com o resgate do ritmo anual trazido por elas e todo o significado da manifestação de vida contido ali. Apercebemos-nos assim, da importância do ritmo, da importância de estarmos conscientes da dimensão Tempo, de exercitarmos a liberdade de escolha do momento presente, sem sermos prisioneiros do passado nem escravos do futuro.

Depois do Natal comemorado no final do ano anterior, temos a passagem do Ano Novo e a Festa de Reis fechando as celebrações do nascimento do menino Jesus até seu batismo no rio Jordão. É a possibilidade do nascimento de novos projetos em nossas vidas. A próxima celebração é o Carnaval – uma época festiva de expansão e brincadeiras que culmina com a quarta-feira de cinzas, numa metáfora de que se inicia uma fase de interiorização, da preparação para o momento inevitável de se confrontar com o que se fará necessário morrer para que os novos propósitos possam acontecer.

É verão no Brasil, a seriedade da vida começa depois do Carnaval, não só por se tratar de um povo brincalhão, mas por isto ser o fluxo natural do tempo. Por se tratar na verdade de uma grande respiração, entre expansão e contração, natural no ritmo do ano, tal como em tudo que é vivo. (…) É lentamente que o ano começa a girar as engrenagens do tempo para o ritmo mais acelerado de nossas vidas.

É o período da Quaresma – período de 40 dias que se inicia na quarta-feira de cinzas e vai até o domingo de Ramos (início da Semana Santa). O período da Quaresma – período de preparação para o caminho da Semana Santa – segundo o costume – exige maior abstenção principalmente alimentar. É época de purificação dos instintos (do corpo astral). Disto só remanesceu a abstenção da carne na sexta-feira santa ou às sextas-feiras.

Depois disso temos a comemoração da Páscoa em si…Que nos traz a imagem do Ressurreto, passando pelo caminho da Paixão e o renascimento do Domingo Pascal. Devagar a temperatura começa a cair, assim como as folhas das árvores, os dias ficam mais azuis, o clima mais seco. O outono inicia.”

Fonte: Colibri – Ano XVII – no. 1 – Boletim da Escola Waldorf Anabá – Páscoa 2008

Texto de Maria Clausen Vieira, psicóloga que se dedica ao trabalho clínico de Psicoterapia Antroposófica e Aconselhamento Biográfico.