Para quem não pôde participar da palestra,a Patrícia (mãe do Caio) fez anotações e trouxe um resumo pra gente:



Segue um breve resumo da palestra da Luíza H. T. Lameirão, em 31/03/2011, no Jardim Amoras, em Campinas/SP. Ela é autora do livro: “Criança brincando! Quem a educa?”. Luíza tem um vasto currículo, como pedagoga formada pela USP, e desde 1979 trabalha com a Pedagogia Waldorf, atuando em diversas frentes, dedicando-se à prática em sala de aula e à formação de professores e educadores para iniciativas sociais. 

Atualmente, pode-se dizer que o grau de criatividade e de autodeterminação são duas habilidades muito importantes para o sucesso dos adultos no mercado de trabalho. Não basta uma boa faculdade para garantir um bom emprego. Ela é, sim, um instrumento, porém não uma garantia de sucesso.

Analisando-se então as duas habilidades acima, percebe-se que as mesmas iniciam-se e se desenvolvem basicamente na primeira infância, desde que sob condições privilegiadas. E, o que é necessário para se desenvolver estas habilidades?

As crianças estabelecem a relação com o mundo através de duas vertentes:

– Percepção: a criança percebe-se a si mesma e tudo o que vem de fora entra com muita força, através dos órgãos do sentir. Ela nasce muita aberta e muito entregue ao mundo.

– Movimentação: a criança se apropria de seu corpo movimentando-se.

Com a junção das duas, normalmente em torno dos três anos, a criança interioriza algo do mundo e já pode estabelecer trocas com ele: ela passa a imaginar, a apreender o ambiente não apenas a partir de sua movimentação e percepção. Ela interage com o mundo por meio da imaginação que, como a palavra diz, é imagem em ação, em movimento! É aí que está a raiz mais poderosa: uma imaginação tão fértil, tão borbulhante, fazendo com que queira transformar algo no mundo. Posteriormente, ao redor dos cinco anos de idade, a criança começa a pôr intenção em suas ações; passa a planejar suas ações, o que às vezes leva mais tempo do que o brincar propriamente dito. E para pôr intenção na brincadeira, é preciso recordar, acordar em si, ‘re-apresentar-se’ internamente a cena. A imagem torna-se cada vez mais insuficiente para a criança; ela deseja apreender o mundo com maior precisão, trazendo objetividade à sua vida imaginativa. Com isso, transforma sua relação com o grupo de companheiros e amigos, criando uma nova vivência social. Do brincar livre, espontâneo, no qual a criança se transforma experimentando o corpo, adquirindo habilidades motoras, conhecendo a si mesma e o mundo, segue-se a elaboração dos jogos de grupo com suas regras. Estas são indispensáveis para a convivência com outros seres humanos e para gerar a ordem social. São habilidades que não se adquire de outra maneira: somente brincando!

E de que maneira podemos prover o envoltório ideal para o brincar?

1) Apresentando à criança um bom espaço, um ambiente onde haja condições de se mover, explorar e experimentar a capacidade de decisão própria. As coisas devem estar ordenadas e qualquer excesso é contrário ao ambiente.

2) Oferecendo tempo para o brincar. A pressa é a inimiga desta condição. No momento do brincar a criança está além do tempo: suspende-se o tempo para o brincar. E não se pode interromper algo tão importante!

3) Provendo relações que favoreçam o vínculo entre as pessoas. Neste âmbito, o tom de voz tem seu papel fundamental como grande promotor ou adversário das relações.

No período de educação infantil, quando muitas crianças convivem numa creche ou num jardim de infância com um educador, estes cuidados precisam ser redobrados. O grupo de crianças se transformará em uma ilha de tranqüilidade quando estas três condições forem proporcionadas. Ambientes calorosos, a vivência do ritmo no cotidiano, o cuidado com a vida das relações tornam os ambientes terapêuticos para as crianças de hoje.

Vários autores têm tentado entender como as circunstâncias da vida atual agem sobre a infância e a juventude. O que se coloca aqui é que os envoltórios gerados de maneira simples pelo educador, por meio de sua presença e atuação, tenham evidenciado o quanto a tecnologia, a atuação da mídia, os jogos eletrônicos, etc., se tornam impedimentos ao brincar espontâneo.