“Nos meios Antroposóficos é comum ouvirmos falar da importância das chamadas Festas Anuais e de se dedicar a uma preparação interior, já que elas tem um profundo sentido espiritual. Mas o que isso quer dizer?

Quer dizer que muito mais que ser meramente uma data festiva no calendário essas festas são marcos que fazem alusão aos movimentos do ser vivo da Terra, em sua grande respiração. Expiração no verão e inspiração no inverno. Através do que a Terra se renova em suas forças vitais nos permitindo a vida.

Através dessa grande respiração, demarca pelas quatro estações do ano e suas festividades, se dá a atuação de quatro grandes Arcanjos que atuam em parceiras: Gabriel (verão) e Uriel (inverno), Rafael (outono) e Micael (primavera). Pois quando é verão em um hemisfério é inverno no outro, em como quanto ao outono e a primavera. E por isso tudo, essas festas são tão importantes, para nos lembrar do ciclo evolutivo da vida e de nossa responsabilidade para com tudo que é vivo.

Então, nesta época de inverno, se olharmos para fora, para a natureza exterior o que vemos?Como se manifesta a atuação de Uriel, que para nós do hemisfério sul que para nós do hemisfério sul é uma atuação a partir do cosmos, enquanto em conjunto atuam as forças de Gabriel internamente a partir do interior da Terra?

Vemos que a vegetação foi perdendo sua exuberância verde. Já temos árvores sem folhas, como as amoreiras, outras árvores com poucas folhas, algumas com folhas em tons de marrom, outras ainda com folhas avermelhadas como as amendoeiras, que irão caindo pouco a pouco. Poucas flores, quase só hibiscos vermelhos e flores do Espírito Santo.

Os dias, apesar do céu azul ainda intenso, vão ficando mais curtos, e com isso as noites ficam mais longas e a temperatura diminui consideravelmente, trazendo o ar frio que nos dá sensação de limpeza e alerta. É tempo de olhar estrelas e pores do sol. A constelação de Gêmeos vai se afastando e se aproxima a de Câncer e com ela a demarcação do ponto máximo  de afastamento do sol da linha do Equador – o solstício. Que para nós aqui no hemisfério sul se dá por volta do dia 24 de junho, dia do nascimento de São João, considerado o dia da noite mais longa, por causa do máximo da declinação boreal pelo qual passa o sol nesta época do ano.

Na primavera/verão a Terra está num estado como o de sono do ser humano, e no outono/inverno, ao inspirar, a Terra estaria na situação do ser humano acordado. No inverno, o mundo espiritual está oculto, interiorizado, tudo está impregnado de um azul escuro. Seres elementais se ocultam na Terra, trabalham nas rochas e cristais, nas raízes e nas sementes. Esses seres espirituais trabalham à luz na escuridão da Terra, transformando-a em pedras preciosas, e possibilidade de vida nova.

Então, numa correspondência do mundo externo da natureza, no mundo interno de nosso interior humano, o que será que acontece? Podemos dizer que, enquanto a primeira metade do ano (auge do verão e outono) pertence a toda humanidade, onde nos ligamos ao mundo espiritual nas comemorações do nascimento, vida e morte do Cristo; a segunda metade do ano é o caminho individual, de conhecimento interior de cada um consigo mesmo. “

(Escrito por Marisa Clausen Vieira, psicóloga Antroposófica – publicado no Boletim da Escola Waldorf Anabá –  Ano XVIII no. 2 – 2008)